sexta-feira, 28 de agosto de 2015

Cachoeira e a Norte-Sul

Há alguns anos vivemos a expectativa de que a tão sonhada obra da Ferrovia Norte-Sul passe por Cachoeira do Sul. O projeto é grandioso, quase "faraônico" até, mas essencial para restabelecer este importante modal para a logística de transporte para o país e para o nosso Estado. A economia sofre e quem produz clama por alternativas que tragam redução de custos operacionais e mais competitividade para os negócios, gerando assim mais riquezas.

A notícia deste mês, após o encontro com o ministro dos Transportes, Antônio Carlos Rodrigues, na sede da FIERGS, em Porto Alegre, no dia 21 de agosto, é muito positiva. Conforme os Estudos de Viabilidade Técnica, Econômica e Ambiental (ETVEA), apresentados na ocasião, Cachoeira do Sul encontra-se na previsão de rota do traçado da ferrovia, no trecho compreendido entre São Paulo e o Porto de Rio Grande.

Torcemos para que isso aconteça, muito embora, mesmo sem estudos muito aprofundados de viabilidade técnica e econômica, pensamos que o mais inteligente para os investidores é aproveitar sim, ao máximo, o traçado das antigas ferrovias gaúchas, contemplando com isso todas as regiões do Estado. Aparentemente, mesmo que seja necessário construir novamente a malha ferroviária, ao se adotar o leito já existente, haveria uma enorme economia em obras básicas de infraestrutura, desapropriações, entre outros fatores de interesse do empreendimento.

Mas a luta não pode ser abandonada e as lideranças cachoeirenses, inteligentemente, já se aperceberam do grande potencial da instalação de um pólo logístico (pátio de cargas) para atender a Norte-Sul em solo gaúcho. É preciso e está mais do que na hora de Cachoeira formar a sua "Comissão Pró-Ferrovia Norte-Sul", para reforçar seus argumentos de forma técnica e com projeto. Ou seja, precisamos elaborar uma proposta completa e convincente sobre como seria este pólo e qual sua melhor localização e estrutura.

O apoio de Santa Maria será vital, englobando todas as regiões e todos os municípios que serão beneficiados com este traçado, ou seja, desde o norte do Estado, Fronteira Oeste, Metade Sul, Centro, Vales e até mesmo a região Metropolitana, que terá desafogado seu fluxo com o deslocamento destes investimentos mais para o cento do Estado. Cabe unir as forças e atrair também Santa Cruz do Sul, que também será beneficiada pela proximidade ao tronco da Norte-Sul.

A luta continua e a articulação por Cachoeira do Sul precisa ser mantida até o final, ou seja, durante vários anos, pois esta é uma obra que se arrasta pelo país. Desde o início do empreendimento em Barcarena, Estado do Pará, há um longo processo a ser vencido. Já se ouve vozes que defendem a execução paralela já partindo do município de Rio Grande e que possa agilizar o cronograma das obras da Região Sul. Outra bandeira que deve ser defendida pelo RS e por todos os estados do Sul do país.

Artigo publicado na edição impressa do Jornal do Povo - 12 de setembro de 2015

quinta-feira, 20 de agosto de 2015

Onde está a verdadeira essência das manifestações?

Temos visto nos últimos tempos, motivadas pelos mais diversos fatores, mas principalmente políticos, muitas manifestações por todo o Brasil. No dia 16 de agosto houve mais uma edição, a terceira, a exemplo das ocorridas em março e abril deste ano. Não quero aqui entrar no mérito e discutir pontos isolados dos fatos, mas é importante registrarmos informações que considero importantes.

A principal delas é de que algo está acontecendo. Mesmo que em uma leitura panorâmica de todo o período, as redes sociais são o ingrediente novo dos tempos modernos, onde já vivemos quase que plenamente o mundo digital e com interação instantânea, e que ajuda a descentralizar a organização e mobilização da sociedade e que dá, até certo ponto, um caráter mais comunitário e porque não dizer mais democrático do que das mobilizações organizadas por representações institucionais tradicionais.

Mesmo assim, é possível também constatar que agentes políticos partidários estão aprendendo a levar o jogo da disputa eleitoral para o seio dos protestos. Não que não seja legítimo, mas, a meu ver, é justamente o campo político que é o principal alvo do descontentamento de muitos milhares de cidadãos. Embora apresente-se como principal bandeira do chamamento o "Fora Dilma!" ou "Fora PT!", sabemos que as coisas vão muito além.

Seria como querer personificar a culpa por uma sequencia de erros históricos, onde nenhum de nós, cidadãos, está de fora. Claro que temos que considerar a gravidade dos desacertos do governo central, que se utiliza da mesma forma, senão cada vez mais e melhor, da grandiosidade da máquina pública para se auto-promover com efeitos sobre as urnas. Não existe um universo paralelo em que o mundo político organizou-se para locupletar-se das instituições estabelecidas constitucionalmente, sem que isso seja um reflexo da nosso própria sociedade como um todo. Uma questão cultural, que para ser mudada precisa de um processo longo e não menos doloroso.

Enquanto vemos polêmicas e repercussão em cima de aspectos um tanto superficiais das manifestações, como por exemplo o embate em cima de erros gramaticais em cartazes e placas, os verdadeiros males e a verdadeira essência que está provocando estes episódios ganha tempo e pode até passar despercebida. O que realmente importa em termos de agenda, infelizmente em nossa realidade, são as etapas que envolvem o calendário eleitoral. De toda forma, precisamos estar atentos para que nenhum ou qualquer governo faça tudo o que está ao seu alcance para se perpetuar no Poder.